“ENIGMA”
Em 2004, Tché visitou uma casa em ruínas. O limo e a ação agressiva da natureza sobre os restos da antiga construção pareciam dar o recado: não pinte aqui. No espaço em que dentro e fora dispunham-se num jogo de xadrez, o céu fazia parte do teto e a ter- ra comungava com o chão, ficou o artista a aguardar algum sinal. O pôr-do-sol veio tocar as janelas desfeitas, cortar-se pelos vidros que- brados e incidiu sua própria pintura de luz e sombra sobre os pla- nos. Como um acontecimento invisível a desenhar nas paredes para chamar a noite.
A partir deste dia, a geometria dos recortes projetados pela luz – pequenos triângulos, formas pontiagudas, ondas duras, cortes secos – tornariam-se matéria-prima para um processo artístico. Tché ado- tou os fragmentos desta resposta misteriosa para destilá-lo pouco a pouco em seu repertório, fosse fundindo em ferro, sobrepondo cama- das, pressionando em tinta, magnetizando campos. Construiu o enig- ma de uma pirâmide impossível.
Esta é uma história de recorrências. Que não veio do graffiti, de uma formação, mas da arquitetura da cidade e da vontade de contra- cenar com ela. Que não veio de uma religião, de uma doutrina, mas do trânsito entre o material e o espiritual e a fusão destes planos em revelações. Que não veio da geometria, da matemática, mas da in- fluência selvagem da natureza. Que apenas não veio. Talvez esteja por vir.
Na exposição ENIGMA, Tché confronta o visitante com uma ex- periência que pode ser reveladora. Labirintos de pirâmides, insta- lações pendulares, pinturas e campos imantados compõem um am- biente místico. Peças de ferro afiadas contrastam com a suavidade do piso, peso e leveza, cores e penumbra, compartimentos abertos e fechados. Um convite que acolhe e intriga.
Julia Bolliger Murari
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Sobre a galeria
No espaço de arte e cultura, A7MA (lê-se a sétima), em São Paulo, somam artistas, telas pincéis e amigos – por meio do desejo genuíno de amplificar a arte contemporânea com influencias da rua, até o limite do possível. Fundada em 2012, é organizada por Marcos Ramos ˚Enivo, Tché Ruggi, Cristiano Kana , Alexandre Enokawa e Raymond Supino. Do indivíduo ao coletivo, muito além de um nome – athima (alma em hindu), a ‘A7MA’ é a representação da união de duas casas artísticas: o ‘Coletivo 132’ e a ‘Fullhouse’. Com mais de 100 m² de arte, o repertório cultural da galeria já tem mais de 30 exposições em seu catálogo e um acervo variado obras e é considerada um dos principais espaços na cidade, interessado exclusivamente pela arte de rua.